sábado, 14 de outubro de 2017

• LSPS Tempestades → ESPECIAL - As Destrutivas Super Células - 14/10/2015


     Era questão de tempo para acontecer, e aconteceu. A Onda Mais Severa de 2015 ocorreu. 4 Super Células passaram sobre a região metropolitana causando bastante prejuízos.
     Pressão atmosférica em 997 hPa, JBN, calor, e índices de instabilidades elevados (Cape, TT, Lifited Intex, e Umidade em 700 hPa), desencadeou a formação e intensificação dos núcleos de chuva que se formavam, gerando-se assim. poderosas Super Células, maioria com potencial tornádica.

     Tudo começou por volta as 10:30 da manhã, quando alguns núcleos começaram a se formar no oeste do RS (Como estava sendo previsto pela LSPS Tempestades). Como já estava perto do meio dia, os índices de instabilidade começavam a se elevar, com cada um no seu grau de severidade.

           | Radar + Imagem de Satélite | Fotos: Redemet, DSA (Junção: LSPST) |

     Tudo parecia encaminhar para a previsão, mas as 13:00, as cumulus, na região central, conseguiram evoluir para congestus. Em 1 hora, a célula, ao sul de Santa Maria evoluiu para super célula. O que o GFS não previu começava a acontecer sobre o centro-leste do estado.

           | Radar + Imagem de Satélite | Fotos: Redemet, DSA (Junção: LSPST) |

     As 14:10, mais uma congestus começava a virar cumulonimbus, esta a noroeste de Santa Cruz do Sul. Ao longo dos 60 minutos, a Cb se intensificava e alcançava os 75 dBz as 15:20. Esta célula (já possível super célula, se for ela a gravada por ''Zirocoolbr'', vídeo que pode ser visto bem mais abaixo), e a super célula evoluída sobre Santa Maria, rumavam em direção a Região Metropolitana.

     Em Cachoeira do Sul, a passagem da Super Célula de Santa Maria, as 15:40) deixou pelo menos 100 casas danificadas pelo granizo, e também possivelmente pelas fortes rajadas de vento.

           | Imagens de Radar em 1 hora de diferença | Fotos: Redemet (Junção: LSPST) |

     As 16:10, aquela célula formada em Santa Cruz do Sul atingia a escala máxima de refletividade, indicando, que por radar, já era uma Super Célula. A Super Célula neste momento, passava por Montenegro, e estava a instantes de atingir a Região Metropolitana (São Leopoldo e Novo Hamburgo). Enquanto isso, super célula ao lado, dava uma enfraquecida devido a da frente.

           | Super Célula chegando a Monte Negro | Fotos: Alessandro Centenaro |

     Em Montenegro, a passagem de duas Super Célula, causaram queda de granizo, por vezes grandes. Acima está o registro de Alessandro Centenaro, que é de uma das duas super células que passaram sobre a cidade no período diúrno. Acreditamos que seja da primeira.


           | Super Célula chegando a São Leopoldo e Novo Hamburgo. | Foto: Redemet |

           | Super Célula chegando a região rural de Novo Hamburgo | Fotos: Antônio Rodrigues/via  JornalNH |

     As 16:40, enquanto a primeira super célula passava por São Leopoldo e Novo Hamburgo, a segunda já estava a minutos de causar transtornos em Montenegro novamente. A primeira super célula chegou a região metropolitana com quase todo seu núcleo com 75 dBz de refletividade. ''Granizenta''!

           | Super Célula chegando a Novo Hamburgo | Fotos: Alexadro Amaro |

     Em Novo Hamburgo, a passagem de duas Super Células (a de baixo é a mesma SC da imagem acima), além de belas imagens, causaram: Destelhamentos, queda de postes, e arvores.
     Em Nova Santa Rita, pelo menos 100 casas ficaram com seus telhados danificados pelos granizos de 4 a 5 centímetros, característicos de células mesociclônicas.

     As 17:30, a segunda super célula atingia Novo Hamburgo e São Leopoldo. Enquanto passava, sua irmã mais velha, avançava por Santo Antônio da Patrulha com refletividade máxima.

           | Segunda super célula passando sobre São Leopoldo e Novo Hamburgo. | Foto: Redemet |

     Em Santo Antônio da Patrulha, as duas super células (acima) danificaram pelo menos 200 casas.

     As 18:00, a segunda célula apresentava formação de gancho, ao passar sobre Taquara. Enquanto isso, uma segunda célula menor passava sobre Novo Hamburgo, enquanto a primeira super célula atingia Xangri-Lá, já um pouco enfraquecida, mas que iria explodir novamente.

           | As 3 super células enfileiradas com potencial para granizo e tornados. | Foto: Redemet |

     Nos minutos seguintes, aquela pequena célula, evoluiu para uma Super Célula, e a super célula de Xangri-Lá chegou aos 70 dBz de refletividade, provavelmente devido a água quente da costa.

           | As 3 super células enfileiradas com potencial para granizo e tornados. | Foto: Redemet |

     Na hora seguinte, a fileira supercélular de 3 super células avançaram sobre Xangri-Lá, e o céu sobre a região metropolitana limpou. Parecia que a situação iria permanecer calma, mas não!
     As 17:30, de vários núcleos convectivos que se formaram no oeste do RS, um acabou começando a se destacar dos outros, a cada varredura, aquele núcleo ganhava mais intensidade. E as 18:30, apresentou característica de gancho, enquanto passava sobre Cacequi.

           | A super célula que iria atingir Viamão no inicio de sua vida em Cacequi. | Foto: Redemet |

           | A já possível super célula com miolo bem definido passando de raspão em Santa Maria. | Foto: Redemet |

     As 19:40, a célula, ao sul de Santa Maria, ao ter um miolo bem definido (confira nesta imagem aqui encima), já podia ser chamada de super célula, era certo que havia mesociclone lá dentro. A Partir dali, ela rumava em direção a região metropolitana, mas desta vez, atingiria POA e Viamão.

     As 20:50, ao chegar o radar, uma super célula monstruosa aparecia sobre o limite do radar, e era visível que estava em rota de colisão com Porto Alegre e Viamão. O Coração disparou de tensão!

           | As 20:50 BRT, eu me arrepiava ao checar o radar, uma super célula estava em caminho direto. | Foto: Redemet |

     Por volta das 22:00, a Super Célula chegou a Porto Alegre, a intensa incidência de descargas elétricas assustou muita gente, que filmaram e postaram no YouTube.
     No centro de Porto Alegre, o cinegrafista da RBS registrou a estrutura que confirma a passagem de uma Super Célula sobre a região da capital e Viamão. Confira as impressionantes fotos abaixo.

           | Super Célula chegando a Porto Alegre | Fotos: Bruno Alencastro |

     A Passagem da super célula pela capital causou: Destelhamentos, queda de postes, queda de arvores, queda de galhos, danos por granizo, além de milhares de famílias sem energia elétrica.
     Na estação meteorológica da RBS, as rajadas chegaram aos impressionantes 116 km/h, fazia muito tempo que não se registrava esse patamar de vento na capital. Foi um valor alto, mas no dia 29 de Janeiro de 2016, esse numero seria superado pelos 120 km/h do Microburst em POA.
     Este evento de Microburst em POA em breve será abordado em seu próprio Especial. Aguardem!

     Acompanhe abaixo a interceptação feita por mim (Lucas Slongo).

LSPS Tempestades em Campo:
     Eu (Lucas Slongo) enfrentei cara a cara (desabrigado) a passagem da 4ª Super Célula, desde a aproximação, até a passagem sobre a sede da LSPS Tempestade.
     Das quatro super células, somente a última atingiu Viamão... em cheio.
     Foram momentos muito intensos, principalmente durante as intensas rajadas de vento.

     As 15:30 daquela tarde quente, começava a cobrir o céu, a bigorna da primeira super célula.

           | Extremidade da bigorna da SC | Foto: Lucas Slongo (LSPST) | 15:32 BRT |

     As 15:48 da tarde, a bigorna avançava e a super célula ganhava intensidade, assim formando as mammatus pré frontais. Elas ficaram visíveis ao norte da sede da LSPST.

           | Mammatus da primeira Super Célula. | Foto: Lucas Slongo (LSPST) | 15:47 BRT |

     As 15:51 da tarde, as bigornas começavam a avançar, e a aumentar de quantidade as mammatus.

           | Mammatus da primeira Super Célula. | Foto: Lucas Slongo (LSPST) | 15:51 BRT |

     As 16:20 da tarde, a super célula começava a avançar sobre as cidades ao norte de Viamão (São Leopoldo, Novo Hamburgo e Gravataí), causando uma gama enorme de danos, a super célula tinha um clássico indício de rotação, as estrias na bigorna, formada por mesociclones.

           | Estrias da primeira Super Célula. | Foto: Lucas Slongo (LSPST) | 16:20 BRT |

           | Bigorna com estrias da primeira Super Célula. | Foto: Lucas Slongo (LSPST) | 16:21 BRT |

     As 16:30 da tarde, enquanto a super célula causava pânico no norte, ela apenas passava de raspão sobre Viamão, neste momento, um pedaço da base precipitatíva se aproximava da cidade, mas antes, as partes finais da bigorna com mammatus, embelezavam o céu.

           | Mammatus da primeira Super Célula. | Foto: Lucas Slongo (LSPST) | 16:30 BRT |

           | Mammatus da primeira Super Célula. | Foto: Lucas Slongo (LSPST) | 16:36 BRT |

           | Mammatus da primeira Super Célula. | Foto: Lucas Slongo (LSPST) | 16:36 BRT |

           | Mammatus da primeira Super Célula. | Foto: Lucas Slongo (LSPST) | 16:37 BRT |

     A Passagem de raspão da primeira Super Célula em Viamão, causou apenas descargas elétricas e chuva moderada. É Viamão se safou!

     Após a passagem da primeira Super Célula, mais uma logo atras vinha para causar mais prejuízo em São Leopoldo, Novo Hamburgo, Glorinha, e Santo Antônio da Patrulha, que tinham acabado de enfrentar uma. Na foto de varredura do radar do Morro da Igreja abaixo, mostra a primeira super célula se aproximando de Santo Antônio da Patrulha com principio de eco de gancho.

           | Primeira e segunda Super Célula. | Foto: Redemet | 18:15 |

     Durante a tarde, final da tarde, e inicio de noite, três Super Células passaram raspando ao norte de Viamão causando um número considerável de danos. Após a passagem, o tempo abril e as estrelas apareceram Viamão se ''safou'' de ser devastada por tempo severo, será?.

     As 20:20 da Noite, eu (Lucas Slogo) fui olhar no radar e PIMBA, ví aquela forma circular demonstrando 75 dBz de refletividade ao sul de Santa Cruz do Sul. Foi ali que percebi. Viamão não iria sair do dia 14 de Outubro de 2015 ilesa, uma intensa Super Célula rumava a Porto Alegre e Viamão, e para variar no momento de intensificação de tempestades supercélulares.

           | Super Célula rumando para POA e Viamão. | Foto: Redemet |

     As 21:00 horas da noite, no horizonte oeste e nordeste de Viamão, a atividade elétrica já era intensa, a bigorna com intensas mammatus noturnas estavam sobre nossa sede, indicando que o que viria seria muito severo. A Minha preocupação com um possível tornado começava a aflorar.

           | Bigorna eletrificada da Super Célula. | Foto: Lucas Slongo (LSPST) | : BRT |

     As 21:30 da noite, através de um relâmpago, eu ví aquilo que me arrepiou os pelos do corpo todo, em pleno influxo quente, a base da super célula, rotacionava, e rumava para a sede da LSPS Tempestades. Vendo aquela base rotacionando na direção horária, me fez pensar: ''Será que depois de 15 anos, Viamão seria atingida por um novo tornado?''. A Emoção tomou conta de mim!

           | Base da mesociclônica da Super Célula a sudeste do raio. | Foto: Lucas Slongo (LSPST) | : BRT |

           | Base da Super Célula. | Foto: Lucas Slongo (LSPST) | : BRT |

     As 21:45 da noite, as descargas elétricas corriam pela estrutura da super célula. A Frequência intensa de descargas elétricas alertavam que, o que estava vindo era muito severo.

     As 22:05 da noite, a base da Super Célula estava num ângulo bem elevado no céu.

     As 22:15 da noite, a Super Célula com rotação, começou a passar sobre Viamão e Estância Grande (sede da LSPS Tempestades), antes da chegada das rajadas e vento, a luz oscilou e faltou (rajada derrubando o eucalipto encima dos fios), após alguns segundos chegou intensa.
     O que fez disparar meu coração foi o som, segundos antes da falta de energia, o som na direção oeste de nossa sede era amedrontador, o som parecia arvores rachando, diante desse som crescente, a energia elétrica oscilou e faltou (como dito acima), após uns 10 segundos, as rajadas de vento intensas, chegaram dobrando todas as arvores ao redor.

     Foram 20 minutos de rajadas intensas com algumas pedras de granizo medianas. Visualizando as rajadas de vento, eu apontaria 100 km/h ou mais de velocidade das rajadas.
     Durante a passagem, os relâmpagos exibiam o interior precipitativo na cor verde claro, sinal de granizo na super célula.

     O que me deixou com dúvida e com um pouco de medo, foi o som a sudeste da sede, o barulho era tipo um assopro, indicativo chave para um tornado no solo. o som era diferente das frentes de rajadas severas que já presenciei. O que diferenciava este som das rajadas de vento intensas era clara:
Rajadas de vento comum: ♫ Xaaaaaaaaaaaaaaaa ♫ (folha das arvores sendo chaqualhadas)
Radas de vento tornádicas: ♫ Vôúúhhhúúúúúúúúúooo ♫ (som característico de tornado)

     Durante a madrugada, a frente fria avançou em forma de Linha de Tempestade, piorando mais ainda a situação dos atingidos pelos temporais da tarde e noite.

Rastros da 4ª Super Célula em Viamão:
     A Passagem da terceira Super Célula sobre Porto Alegre e Viamão causaram uma onda de destruição que foi considerada como a pior tempestade até então (perdendo para o tornado EF3 de 2000 em Viamão e Águas Claras, e para o Microburst de POA, que ocorreu mais a frente, 31/1/2016).

     Perto da sede da LSPS Tempestade, na RS-118, houve a queda com raiz e tudo, de um eucalipto de aproximadamente 40 metros, sobre os fios da rede elétrica, juntos com outras arvores, que também caíram sobre os fios.
    Na Estância Grande, houve a queda de 1 poste com transformador, e mais 3 postes tortos.
     A nossa sede ficou sem energia elétrica desde as 22 horas de quarta, até as 17:15 (horário de verão) de domingo.
     No centro de Viamão, houve queda de postes, destelhamentos, e queda de galhos e arvores.

As Super Células fora de Viamão:

▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬ Análise Técnica: ▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬

     Esse cenário severo se deu pela avanço de uma frente quente (cavado - Área alongada de baixa pressão), esse fenômeno sobre condições tão acessíveis para convecção, geraram super células tornádicas. Para piorar, já no dia 15, uma frente fria se formou e avançou, causando ainda mais problemas.
     Nós da LSPS Tempestades fizemos uma postagem de alerta, indicando o pior de Tempo Severo para a metade oeste do RS, mas o que veio de pior a ocorrer foi na metade leste, um erro ocasionado pelo GFS, que novamente voltava a fazer projeções numéricas errôneas. O Modelo indicava para o oeste as melhores configurações, sendo que foi no leste que as condições se mostraram estarem melhores.
     As 4 Super Células apresentavam forte mesociclône cada, havia potencial elevado para descer um funil e formar tornados. Tanto que foi curioso não ter ocorrido pelo menos um tornado moderado, já que houve vários princípios de Hook Echo (Eco de Gancho) nas 4 Super Células. Infelizmente nunca saberemos o motivo para a não ocorrência dos funis, já que não havia equipe de pesquisa caçando.

     No GIF baixo mostramos aonde se localizada o mesosiclone de cada super célula que passou pela região metropoitana.

FOTO GIF.

     Como prova, em Santa Cruz do Sul, foi feito um extraordinário registro do mesociclone da provável primeira ou segunda super célula, veja abaixo, a rotação é de arrepiar:

Mesociclone de uma das Super Células sobre Santa Cruz do Sul - 14/10/2015.

     | Uploader: Zirocoolbr. |

     Em outras regiões do estado também houve a formação de super células, e a maioria também com potencial tornádica.

     A Troposfera estava assim:
→ 1000 hPa - Calor, com pressão baixa, e com umidade moderada disponível. (Superfície).
→ 850 hPa - JBN (Jatos de Baixos Níveis) atuando sobre o RS. (Baixos Níveis).
→ 700 hPa - Bastante umidade disponível. (Baixos Níveis).
→ 500 hPa - Velocidade alta dos ventos. (Médios Níveis).
→ 200 hPa - JST (Jato Subtropical) em altas velocidades sobre o RS. (Altos Níveis).

     Pelas imagens de satélite, da para notar, a atuação do cavado, que causou duas erupções convectivas, seguido pela formação e avanço da frente fria, já no dia 15 de Outubro.

                                            | Atuação da instabilidade sobre o RS | Fotos: DSA/CPTEC |

     A quantidades de super células formadas no evento deste dia 14 de Outubro de 2015, da para se dizer que, foi um dos eventos mais severos da década sobre o RS. Mas em questão de quantidade de Super Células, foi histórico, em 20 anos, nunca se viu tantas formadas no mesmo dia.

     OBS: Esta postagem ficou arquivada por 1 ano e 2 meses devido a uma série de problemas, que ocasionou a paralisação do blog. As edições só voltaram no dia 29 de Dezembro de 2016, quando finalmente conseguimos as informações que faltavam.
     OBS: Devido a problema da minha câmera, as anotações de horários durante a passagem sobre a sede podem estar com atraso de 10 minutos. Por motivo desconhecido, a câmera fica se desatualizando com a hora exata, evento que acontece gradualmente em mili-segundos

   Crédito:
• Texto: Lucas Slongo (Adm: LSPS Tempestades).
• Fotos: Antônio Rodrigues, Redemet, Lucas Slongo (LSPST), Alessandro Centenaro, Alexandro Amaro, Bruno Alencastro.
Capa: Fundo (Bruno Alencastro), Radar (Redemet), Edição (Lucas Slongo).

→ Última Atualização: 2 de Dezembro de 2017 - 22:19.

                                                                                 • LSPS Tempestades •

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

• LSPS Tempestades → ESPECIAL - A Frente Fria Severa de 1º de Outubro - 1/10/2017


     Uma Super Frente Fria!!! O Dia 1º de Outubro de 2017 ficou marcado na história climatológica brasileira pela formação e passagem da mais potente e severa frente fria em anos, ou da década, sobre o sul do Brasil. A Passagem do sistema causou, possíveis tornados, tromba d'água, Shelf Clouds, rajadas acima dos 100 km/h, e granizo. Uma onda severa sem precedentes recentes Brasileira!

     Desde o começo da última semana de Setembro. se projetava um cenário severo sobre o Sul do Brasil. O GFS e NAVGEN projetavam um atmosfera muito instável. Diante desse cenário Assustador, foi realizada duas previsões em nossa página, uma no dia 26, e atualizada no dia 30.

           | As duas previsões da LSPS Tempestades | Foto: Lucas Slongo |

     Nota do Editor: ''A Previsão falhou em não prever a onda severa afetando severamente a metade sul do RS, mas mesmo assim, obteve a precisão de 80%, e ter a eficácia destes aproximadamente 80% na previsão só serve de incentivo para eu continuar a missão de Salvar Vidas através de previsões e alertas meteorológicos.''

     A Onda severa começou as 23:30 da noite de sábado, quando a ativação convectiva começou no estado de Buenos Aires, na Argentina. Ao longo da madrugada de domingo, novos Sistemas Convectivos se formaram mais a oeste e noroeste e se juntaram ao primeiro já no fim da madrugada.
     Durante o fim da madrugada e inicio de manhã, começou a se organizar uma Linha de Tempestade, devido a formação da Frente Fria, que aos poucos começava a avançar rumo ao oeste do RS.

     As 9:20, a Linha de Tempestade adentrou o extremo oeste do RS, com intensidade moderada.

     As 10:10, a Linha de Tempestade começou a passar sobre Uruguaiana. Onde causou chuva forte, rajadas moderadas de vento, com descargas elétricas. Neste momento em diante, a LT começou a ganhar intensidade, principalmente seu flanco esquerdo, que se localizava-se sobre a Argentina.

           | Nuvem arco sobre área rural de Uruguaiana-RS | Foto: Twitter: @PretoCosta26 |

     As 11:00, uma Frente de Rajada (Outflow) começou a avançar a frente da Linha de Tempestade.

           | Frente de Rajada a frente da linha de tempestade | Foto: Redemet (Edição: LSPST) |

     Das 12:00 em diante, a forte célula sobre a Argentina começou a curvar. E as 12:20, formou um nítido gancho (Hook Echo) indicando que há um intenso mesociclone. A Rotação era tão forte, que fez a linha frontal se dividir em duas. O Pior de tudo é que a Super Célula robusta estava prestes a adentrar o RS nas proximidades de Itaqui-RS. Mas felizmente o mesociclone perdeu força quando adentrou território gaúcho. Mas muito provavelmente formou um tornado sobre a Argentina.

           | Super Célula com nítido gancho sobre território Argentino e quase no RS | Foto: Redemet |

     Enquanto migrava em direção a Santiago-RS, a massa daquela super célula gerava pequeno ecos de gancho. Como ocorreram sobre área rural, não se sabe se houve a formação de funis, ou tornados.

           | Pequenos possíveis ganchos na linha que passou sobre Santiago-RS | Foto: Redemet (Edição: LSPST) |

     O Avanço da Linha de Tempestade fez ocorrer a formação de uma tromba d'água sobre o Rio Paraná que faz divisa entre Paraguai e Argentina, as 14:30. Confira abaixo o vídeo do fenômeno.

Tromba d'água na divisa entre a Argentina e Paraguai - 1/10/2017.

     | Uploader: LachorizeraYT. |

     No mesmo momento, um forte núcleo passa sobre Capão do Cipó, deixando bastante destruição. Suspeita-se que tenha ocorrido um Tornado EF0 na cidade. Relato de seguidor da LSPS Tempestade, sobre objetos sugados e rodopiando no ar, dão ainda mais sustentação a passagem do Tornado.

     As 12:40, a flanco direito da linha chegava a Dom Pedrito, causando fortes rajadas de vento.

           | Bela Nuvem Arco em Dom Pedrito-RS | Foto: Claudenir Munhoz |

     As 15:30, uma super célula acoplada a Linha de Tempestade passou ao norte de Santa Maria, mais exatamente em Tupanciretã, causando rajadas de 127 km/h. Através de uma imagem, foi constatado pela LSPS Tempestades, com 80% de certeza, a passagem de um Tornado EF1 sobre a área rural da cidade. A Confirmação em 100% só seria possível com mais imagens, principalmente aérea.
     Abaixo pode-se ver um registro, com danos característicos de um tornado.

           | Arvores inteiras e decepadas em Tupanciretã-RS | Foto: Autor Desconhecido (Via Twitter MetSul) |

     Por volta das 17:20, misteriosamente a energia elétrica em Viamão caiu, deixando toda a cidade as escuras. Neste momento eu, Lucas Slongo, estava prestes a iniciar o monitoramento, e alertar os moradores da região metropolitana da chegada da instabilidade severa. Antes de ligar o maquinário, a energia caiu! A Teoria mais aceita é que foi desligamento preventivo da concessionária CEEE.

     Ao passar sobre Montenegro, a tempestade deixou 300 casas destelhadas, além de uma loja, que acabou pegando fogo devido a uma forte descarga elétrica. Felizmente, sem feridos na cidade.

     As 18:30, a Linha de Tempestade severa chegou a região metropolitana. A Rajada mais forte registrada na capital foi de 107 km/h. A Passagem da tempestade deixou quase 100% de POA sem luz elétrica, graças a queda de postes, e arvores sobre os fios de alta tenção. O Mais grave foi o desabamento da estrutura de um circo, mas felizmente não houve mortes, apenas 5 feridos levemente.

           | Circo no chão e ginásio avariado em POA | Fotos: Deise Freitas/Defesa Civil |

     As 18:44, a Shef Cloud começa a passar sobre Viamão. E a sua passagem causa rajadas de no máximo 60 km/h, deixando 31 casas com telhados avariados levemente e alguns seriamente.

     Ao longo da noite, a frente fria foi avançando pelo nordeste do RS, e o flanco direito que passava pela região, começou a perder força, já o flanco esquerdo, começou a ganhar força sobre o Paraguai e Mato Grosso do Sul.

Ranking das Rajadas de vento pelo Brasil (100 km/h para cima):
132,0 km/h em Salto do Jacuí-RS. (Estação DAVIS Particular).
127,8 km/h em Tupanciretã-RS (Cidade do Tornado EF1, esta rajada não é a medição do tornado).
118,0 km/h em Soledade-RS (Aeroporto Municipal).
• 115,2 km/h em Dionísio Cerqueira-SC.
• 114,3 km/h em Chapecó-SC.
• 112,6 km/h em Dourados-MS.
• 111,6 km/h em Ouro Branco-MG.
• 110,1 km/h em Cruz Alta-RS.
• 108,7 km/h em São Lourenço do Oeste-SC.
• 108,0 km/h em Planalto-PR.
• 107,6 km/h em São Borja-RS
• 107,2 km/h em Porto Alegre-RS.
• 106,5 km/h em Bom Jardim da Serra-SC.
• 102,9 km/h em Teutônia-RS.
• 101,8 km/h em Dois Vizinhos-PR.
• 100,0 km/h em Pato Branco-PR.

▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬   • LSPS Tempestades em Campo • ▬▬▬▬▬ ▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬▬.

     As 16:00, a cirrus dos desenvolvimentos verticais da LT já cobriam o céu acima da sede da LSPST. Mas como era a ponta da super bigorna, ainda era possível ver o sol acima da nuvem.

           | Cirrus da bigorna já cobrindo o céu de Viamão | Foto: Lucas Slongo (Adm: LSPS Tempestades) |

     As 18:26, começava a ativação elétrica, do nada os raios começaram a ocorrer na frente da shelf cloud, que aos poucos avançava vindo da direção oeste. Na imagem abaixo, é possível notar o topo da Nuvem Prateleira chegando a sede, junto com a ocorrência de uma descargas elétrica ao norte.

           | Topo da Shelf Cloud já visível | Foto: Lucas Slongo (Adm: LSPS Tempestades) |

     Sem Luz para alertar, bastou (graças a disponibilidade) caçar a tempestade.
     Infelizmente a caçada não teve produtividade em registro, devido a escuridão e contraste da claridade do farol, não consegui registrar se quer um frame da Shelf Cloud, fato que me incomoda até então. É F*** para um caçador não poder registrar um evento épico e histórico. Ficou para próxima!
     Abaixo mostro como os 20 minutos de registro ficaram. Sim, só filmei carro e a estrada. :(

           | Andando na ERS-118 rumo a Viamão | Foto: Lucas Slongo (Adm: LSPS Tempestades) |

     Momento descontração: Bianchi, o ponto de luz numa Viamão as escuras!!! O Gerador da Biachi é tão poderoso, que o estabelecimento operou normalmente logo após o temporal, como se nem tive-se ocorrido a tempestade e a falta de luz. Tirando os faróis dos carros, era o único ponto de luz visível na cidade. MAZAAAAA BIANCHI!!!

           | Enfrente a Biachi, rumo a sede da LSPST | Foto: Lucas Slongo (Adm: LSPS Tempestades) |

     Não foi uma interceptação ofensiva, mas sim conservadora, o veículo não é preparado para resistir a fortes rajadas de vento e muito menos granizo, confira abaixo o trajeto feito por mim e meu irmão.

Rota em Texto: Sede LSPST→Estância Grande (direção leste depois oeste)→ERS-118→Açores→Av. Bento Gonçalves→R. Macros de Andrades→R. Daltro Filho→R Julieta Pinto Cesar→R. José Garibaldi→ERS-118→Estância Grande→Sede da LSPST.


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→ Análise Técnica:
     A Condição atmosférica no dia 1° de Outubro estava excepcionalmente instável. Havia pressão barométrica abaixo dos 999 hPa (994 e 990 em algumas regiões), atuação dos Jatos de Baixos Níveis, avanço de uma Frente Fria, e temperatura em superfície considerável (24 a 28°C).
     Os parâmetros atmosféricos: CAPE, TT, Lifted, e Sweat estavam consideravelmente altos.

200 hPa: No Topo da Troposfera ocorreu a formação de uma Divergência no Jato Subtropical. Este fenômeno ajuda na perda de massa, ou seja, auxilia na ascensão, e diminui a pressão barométrica. Na madrugada de segunda, a divergência regrediu e virou apenas uma difluência. Mas nota-se que a divergência foi tão forte que corrigiu o Jato Subtropical para soprar na direção sudeste sobre o RS.

          | Comportamento do JST durante a tarde até a madrugada de segunda | Foto: Earth (Edição LSPST) |

500 hPa: No nível médio da troposfera, tinha um cavado intenso atuando sobre a Argentina e RS.

          | Comportamento do Cavado durante a tarde até a madrugada de segunda | Foto: Earth (Edição LSPST) |

700 hPa: Entre o nível mais baixo e o nível médio da troposfera, havia bastante umidade disponível. Umidade trazida pelo Jatos de Baixos Níveis. Esta umidade era o combustível das tempestades.

          | Umidade da atmosfera durante a tarde de domingo (15:00) | Foto: Earth (Edição LSPST) |

850 hPa: No nível mais baixo da troposfera (tirando o 1000 hPa, que é a superfície). Neste nível, havia a pressão barométrica de 995 hPa para baixo, Jatos de Baixos Níveis (JBN), e uma frente fria em formação, ou seja, o ar frio avançando sobre o ar quente em baixa pressão.

          | Comportamento do JBN durante a tarde até a madrugada de segunda | Foto: Earth (Edição LSPST) |

          | Pressão atmosférica durante a tarde de segunda | Foto: Earth |

     Pelas imagens de satélite, nota-se a explosão convectiva na noite de sábado e madrugada de domingo, a formação e organização da frente fria, e o avanço sobre o sul do Brasil. A Explosão convectiva sobre o Paraguai serviu para matar a instabilidade do primeiro CCM.

                                       | Evolução do sistema no sul do Brasil | Foto: DSA (GIF: LSPST) |

                                                   • BONUS .
     Enquanto este cenário Severo se desenrolava em continente. Na costa de Santa Catarina e Paraná, atuava uma Baixa Subtropical, que apresentava simetria e núcleo quente a morno (na divisa) em baixo níveis, e morno em médios e altos níveis. Provavelmente por não estar tão adentro em Warm-core, e avançando para águas mais frias, a Marinha não quis caracteriza-lo como Depressão Subtropical.

          | Análise da baixa via Cyclonephase | Foto: CyclonePhase (Edição LSPST) |

     Se lembra das super células do dia 14 de Outubro de 2015? No dia 14 deste mês, no aniversário de 2 anos, será lançada aqui no blog o Especial sobre o evento, que era considerado o mais severo, até chegar o dia 1º de Outubro de 2017.

   • Conclusão → Este evento, de longe, foi o mais severo da década sobre o sul do Brasil, superando as super células do dia 14 de Outubro de 2017. Novamente, a meteorologia se mostrou conservadora demais, com destaque para os noticiários da TV, que mencionavam apenas ''chances para temporais, com rajadas de vento e granizo''. Os órgãos meteorológicos mencionavam a condição para Tempo Severo, mas com menções espaças e sem alarmar, quando alarmar era a melhor opção.

OBS: Não há muitas imagens dos fenômenos severos devido a poucas imagens disponíveis para uso público. A maioria é protegidas por Direitos Autorais, e só podem ser usadas com permissão do autor, e para usarmos, teríamos que entrar em contato com os autores. Tarefa que é bem complicada.
     Com isso, esta postagem está sujeita a atualizações para adição de conteúdo!

• Texto: Lucas Slongo (Adm: LSPS Tempestades).
Fotos: LSPST, PretoCosta26, Deise Freitas, Redemet, Earth, DSA, Cyclonephase.

                                                                                 • LSPS Tempestades •
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